terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Brecht: merece atenção!

Aos que vierem depois de nós

Bertolt Brecht
(Tradução de Manuel Bandeira)


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
[(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nóscom indulgência.

disponível em: http://www.releituras.com/bbrecht_menu.asp

Ingênuo - Pixinguinha


Eu fui ingênuo quando acreditei no amor
Mas, pelo menos jamais me entreguei à dor...
Chorei o meu choro primeiro
Eu chorei por inteiro pra não mais chorar
E o meu coração permaneceu sereno
Expulsando o veneno pelo meu olhar...
... eu procurei me manter como Deus mandou
Sem me vingar que a vingança não tem valor
E depois também perdoar a quem erra
É ser perdoado na Terra
Sem ter que pedir perdão no céu.
Eu não quis resolver
Eu não quis recusar
Mas do amor em ruína, uma força termina
Por nos dominar e depois proteger
Dos abismos que a vida traçar
Quando o tempo virar o único mal
E a solidão começa a ser fatal...
Eu não quis refletir, não
Eu não quis recuar, não
Eu não quis reprimir, não
Eu não quis recear...
Porque contra o bem nada fiz
E eu só quero algum dia
Ser feliz como eu sou infeliz...

Passarim - saudoso Tom


Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro partiu mas não pegou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Me diz o que eu faço da paixão?
Que me devora o coração..
Que me devora o coração..
Que me maltrata o coração..
Que me maltrata o coração..

E o mato que é bom, o fogo queimou
Cadê o fogo? A água apagou
E cadê a água? O boi bebeu
Cadê o amor? O gato comeu
E a cinza se espalhou
E a chuva carregou
Cadê meu amor que o vento levou?
(Passarim quis pousar, não deu, voou)

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..

Cadê meu caminho? A água levou
Cadê meu rastro? A chuva apagou
E a minha casa? O rio carregou
E o meu amor me abandonou
Voou, voou, voou
Voou, voou, voou
E passou o tempo e o vento levou

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta então, me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..
E a luz da manhã? O dia queimou
Cadê o dia? Envelheceu
E a tarde caiu e o sol morreu
E de repente escureceu
E a lua, então, brilhou
Depois sumiu no breu
E ficou tão frio que amanheceu
(Passarim quis pousar, não deu, voou)
Passarim quis pousar não deu
Voou, voou, voou, voou, voou

sábado, 21 de fevereiro de 2009

marés da vida

Existe um desejo humano
um lugar ao sol,
frente ao mar
se pode ver a linha do horizonte
o sol beijando as ondas ao longe
algumas nuvens alaranjadas
raios de sol picados que tocam a água
pequenas bênçãos
o céu de blues.

Existe um desejo humano
além da linha do horizonte
cruzar os mares
enfrentar suas marés
grandes ondas, tempestades...
estrelas refletidas em todos os horizontes
noites de escuridão total
um barco segue
além
além dos desejos humanos
além das tempestades
de horizontes
das estrelas
das marés.

Existe um desejo humano
que quer algo além das belas paisagens
além do mito das cavernas e suas sombras
que abre seu peito à procura
numa busca de outro cais
cruzando o horizonte,
mesmo sozinho, o barco segue,
seus tripulantes: os pensamentos,
o vento os leva...
a viagem é a vida
nem todos os dias são de sol
nem todos são tempestades.

As tempestades nos fazem trabalhar mais.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

nada a fazer, sábio!

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram.
Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa.
Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.
Clarice Lispector

Pablo Neruda

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.

Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,a sangue e fogo.

um grande coração

Por Andy Warhol, heart

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Jean Dubuffet

Le Siegeant, 1967

Theatre de Memoire, 1977

Vinícius



Cotidiano n°2
Vinicius de Moraes

Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Acordo de manhã, pão sem manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar Herodes natural

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Às vezes quero crer mas não consigo
E tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

let it be



Let It Be

The Beatles

Composição: John Lennon e Paul McCartney


When i find myself in times of trouble
Mother mary comes to me
Speaking words of wisdom, let it be.
And in my hour of darkness
She is standing right in front of me
Speaking words of wisdom, let it be.
Let it be, let it be.Let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be.

And when the broken hearted people
Living in the world agree,
There will be an answer, let it be.
For though they may be parted there is
Still a chance that they will see
There will be an answer, let it be.
Let it be, let it be.Let it be, let it be.
There will be an answer, let it be.
Let it be, let it be.Let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be.

Let it be, let it be.
Let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be.

And when the night is cloudy,
There is still a light that shines on me,
Shine on until tomorrow, let it be.
I wake up to the sound of music
Mother mary comes to me
Speaking words of wisdom, let it be.
Let it be, let it be.Let it be, let it be.
There will be an answer, let it be.
Let it be, let it be,Let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Versos e prosa - flores partidas

Há pensamentos tão tristes, se os pensa a faz chorar...
não entende nem compreende, não pensa mais.
Ela não quer mais pensar neles,
entrou no trem, e ele viu o céu fugir,
fingiu não ligar, mas o coração se partiu.
Lembra dos traços, pedaços e músicas,
ele lembra dela todas as manhãs, tardes e madrugadas
e quando se sente só,
mas a solidão o afoga.
Ela era dele, amava todos os defeitos
amava ele, de maneira simples
incompeensível, sincera.
Mas ele nunca considerou o bastante,
suas referências sobre as mulheres não eram boas
as mulheres, todas, não eram nunca mulheres o bastante,
talvez ele nunca tivesse se sentido o bastante,
a insegurança tomou seus pensamentos
o levou embora
ela o esperava.

Estações passaram por eles,
ele queria ser visto, lembrado,
queria viver sozinho, ter sucesso,
estar solteiro...
Ela amava ele, e o esperava
há dias que ouvia que não se vive de amor,
mas
sem amor não se vive...
A felicidade os visitava, ela sabia, ele estava cego,
se sentiu triste,
e foi morrendo,
pensou em partir sem ele
grita-se com uma pessoa
não por ela não ouvir, mas por ela estar longe
ela estava longe, ele também.
Ele pensou que ela não gostava dele o bastante
e com desdenho tratou
todas as coisas que ela fazia
estava cego, surdo,
e depois de um certo tempo, mudo.

Ele achava que tinha uma pedra no sapato
e disse com todas as palavras ferinas que se possa dizer
que ela não sabia, não entendia, e nada podia fazer.
Ela sentiu-se só, e viu que a muito tempo fazia frio
pensou... ouviu e se calou.
Como alguns, ela pensava nos seus projetos
ele ria
pintava seus quadros,
ele ria
Ouvia conções de amor, gostava de poesia, escrevia
ele sumia...
algo sempre a fazia ficar... afinal, ele gostava dela,
isso ela sabia, incertezas
esperou, entrou no trem e partiu.
E ele viu o céu fugir... fingiu não ligar, não ligou
uma estação se passou
e ele enlouqueceu...
percebeu... ela era seu equilíbrio,
sua razão, seu bem querer, sua vida, seu amor
para ele, não havia mais ninguém como ela
ela era a única, venderia sua alma para tê-la,
gestos de desespero,
Tulipas vermelhas, Tom Jobim, declarações insanas
os olhos dela estavam cinzas
sua pele se tornou algo insólido, um terreno estranho,
olhava para ele, olhava... não o reconhecia mais,
ele não era mais engraçado.

Ela pegou algumas roupas, perfumou-se e foi embora
antes de sair, velou todo o amor que sentira,
o deixou naquela casa,
ela acha que o amor era uma alma,
que encarnou nele.
Ele se achou um tolo, cego e perdido,
ela nunca carregou mágoas,
mesmo assim ele pediu perdão,
disse que percebeu tarde demais
que ela era seu grande amor,
e pedia que ela ficasse mais um pouco,
querendo negar que ela tinha ido.

Alguns outonos passaram, e ele esperava por ela
sozinho na estação, remoendo seus erros,
delirando sobre sua vida a dois,
chorou pelo seu coração partido,
ouviu todos os discos dela uma centena de vezes
até ouvia ela por algum tempo,
imaginava ela falar coisas sobre as coisas que ela sempre falava
quis ter feito muita coisa diferente,
quis dizer pra ela,
todos os dias pela manhã que a ama,
que todos os dias com ela eram felizes,
e que queria estar todos os dias com ela
porque ela era ela,
uma obsessão.

Ela nunca esqueceu de nada,
seus pensamentos sobre ele são tristes,
ela sabe
se não tivesse partido
ele nunca saberia,
nem ela.

As pessoas ficam, uma na vida das outras
um determinado tempo, longo ou curto,
depende do que elas estão dispostas,
às vezes reconhecer o amor é difícil,
as bocas dizem: perder nos faz reconhecer o quão nos é valioso algo que damos pouco valor,
alguns se curam.

Todo amor só é bem grande se for triste...

Eu Não Existo Sem Você
Tom JobimComposição: Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você
Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Henri de Toulouse-Lautrec




In the Salon at Rue Des Moulins, 1894

Robert Nesta Marley


"Difícil não é lutar pelo que se quer, mas pelo que se ama.
Desisti... não pelo medo de lutar, mas por não ter mais condições de sofrer."


"Se choras por não ter visto o pôr-do-sol, suas lágrimas não permitirão ver as estrelas."


"Os ventos que as vezes tiram algo que amamos,
são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi dado.
Pois tudo aquilo que é realmente nosso, nunca se vai para sempre..."

substantivos femininos

ingenuidade e ousadia,
ambos
substantivos femininos.
Agir com simplicidade, singeleza,
mas com audácia... curiosidade.
nada complicado, simples assim
dave, tim e risadas...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

tristeza


existem histórias tristes de amores perdidos...

a tristeza ao redor da ausência, o silêncio
a saudade daqueles momentos a dois, os sonhos
um amor contido, quase não permitido
lembranças
aquele por do sol, os cabelos ao vento
sorrisos, a areia fria no pé,
um abraço quente, cabeça no ombro
aquele dia, um dia qualquer, qualquer dia
alguns dias, dias e dias
lembranças....
aquelas conversas, aquelas comidas,
aquelas risadas, aqueles olhares
músicas,
lugares,
poemas....
aqueles dias eram...
foram
se foram

hão de haver histórias de amores tristes
as lembranças
seus amores
qualquer dia lhes parecem tristes
as lembranças: felizes.

o poeta sabe a tristeza
sente-a tão intensamente
como se sua fosse
e até chora pela tristeza alheia
quando triste lhe parece
perder um amor, um grande amor
que encheria uma vida inteira
é a maior tristeza que o poeta viu e sentiu na vida
é sua maior fonte de inspiração
a tristeza é a musa do poeta.



coisa que não fazemos

A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que,
esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.

Escrever

Escrever é esquecer.
A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
Fernando Pessoa

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

medos


o medo impede de seguir adiante,

sempre trará lembranças

de algo que você queria fazer e não fez

de algo que você quis

mas não teve atitude

força o bastante para enfrentar os riscos

assumir as consequências,


"abrir o peito à força, numa procura"


nunca conheci nenhuma pessoa de sucesso que tenha se deixado levar pelo medo,

difícil imaginar a existência de grandes pioneiros

não fosse pela paixão e coragem de seguir

a terra não seria redonda

o catolicismo seria a religião única no mundo

mpb, bossa nova, tropicália

e acho que todos viveriam na Europa...


afinal, o medo

qual seja

falar,

rir,

seguir os sonhos,

conhecer lugares, pessoas,

perder,

arriscar,

dar o primeiro passo,

contradizer,

viajar,

é um muro

como o de Berlim

algo sem sentido,

ridículo

onde se escondem os covardes

que deve ser derrubado,

superado.


o medo é algo aprendido,

não se questiona o medo

qual é a razão para se ter medo?

o que você faria se não tivesse medo?

medos são resquícios de uma educação punitiva

pra algumas religiões, até Deus pune

o Estado pune até hoje

é de se pensar

o seu sucesso, sem medo, amedronta alguns

o mercado é limitado

o seu sucesso é o medo de outros.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

René Magritte

O Filho do Homem

Fahrion, João


Nu com luva
Obra de acervo permanente do MARGS.

a felicidade


“Faça o que for necessário para ser feliz.
Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples,
você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade”.

Mario Quintana

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

simbologias...

não há simbologias convincentes
que ou quais objetivos delas?
sem consciência, classifica-se as pessoas pelas suas atitudes,
com a visão individual,
talvez não se possa compreender alguém,
talvez, alguém sempre disse outra coisa que não é a que se ouve,
pesos e medidas, infames, individuais.
ainda assim,
apesar de pouco se crer,
falo daquilo que identifico como verdadeiro
ou mesmo daquilo que aprendi ser verdadeiro.
identifico muitas verdades em mim
apesar de desconfiar que elas não são verdadeiras...
sigo minha intuição.

um Porto

disse até logo
porque volto, eu volto
Porto Alegre cultural
suas casas antigas, tão lindas
complexo, um corpo de poeta
seus poetas
suas músicas e arte
fervia!

a lua cheia iluminava minha volta
queimava o céu de tanta luz
mostrava as luzes da cidade
dois "céus" em paralelos.

não seguro, mas um porto
cheio de idéias
à espera dos viajantes
inseguro
mas infinitamente
belo.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

cittá

bela cittá...
cresce desenfreada
aturdida
caótica

era uma menina
12 ou 13 anos
talvez menos
um corpo infantil
6 da manhã
a rua comia seus cabelos
as pontas de seus pequeninos dedos

era uma menininha
jogada aos becos
adoecida
dormia
encostada às portas
de uma grande loja
que sugava sua alma

seus trajes não eram de menina
seus trajes...
trapilhos
sujos da podridão
daqueles que a envenenaram
talvez um trago
uma pedra... quem viu?

magra, pele seca
11 anos me parece, talvez 10
pezinhos calçando uma sandália
simples
haviam rachaduras
nos pés jovens da menina
de andar na rua
sem ninguém
à margem
sempre à margem
sem ninguém

boates
diversão
ela sorria
decerto... mergulhada na noite
podre
que a consumiu
sobrou
a menina
jogada no asfalto da vida.

que mundo!
penso
tantos assim...
tantos
o dinheiro os consumiu
não tinham
arrancaram-lhes sua própria alma
pra pagar

que mundo!
eu vi
vi a menina
adormecida
não vi seu rosto
medo
dela
quis ter feito algo
pensei
passei pela menina
passei
agora eu choro
pela menina
ela ficou em mim...
pobre menina!

a cidade?
era bela
continua bela
ela era mais bela.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

vitrola rolando um blues

A noite vai ser boa
De tudo vai rolar
De certo que as pessoas
Querem se conhecer
Se olham e se beijam
Numa festa genial

Na madrugada a vitrola rolando um blues
Tocando B. B. King sem parar
Eu sinto por dentro uma força vibrando uma luz
A energia que emana de todo prazer

Prazer em estar contigo
Um brinde ao destino
Será que o meu signo
Tem a ver com o seu?
Vem ficar comigo
Depois que a festa acabar

Noite do Prazer
(Paulo Zdanowski/Claudio Zoli/Arnaldo Brandão)

Porto Alegre

vou pra Porto Alegre,
tchau!

:)

pais

atire
atire a pedra quem nunca brigou com seus pais

a infância
trago lembranças
alguns dizem que não é possível
mas lembro muito da infância,
os pais eram tão grandes
desenhavam com perfeição
tinham todas as respostas
falavam com tantas palavras diferentes
olhavam pra mim com tanto carinho...
era uma ótima aluna na escola.

na adolescência
não entendia nada sobre eles
nem eles sobre mim...
idade das trevas
uma luta entre os que mandam
e os que não gostam de obedecer
difícil pra eles
e pra mim
a ciência explica a adolescência
uma explosão hormonal
eu explico
é uma mistura:
milhões de perguntas
ser diferente deles
me diziam que eu lia demais
me diziam que eu pensava demais
talvez

um limite
parece que algumas pessoas nunca saem da adolescência...

não deve ter um limite... mesmo
é apenas o aprendizado
que ao longo de um certo tempo
você preencheu certos requisitos
aí, pra algumas pessoas
você se tornou um
ó
adulto.
não sei, não sei...
não me parece certo
dividir as coisas desse jeito

ouvi de minha mãe
seja feliz
e foi importante pra mim,
e olhando pra trás
ela me dizia isso sempre
mas eram em cirscunstâncias que ela me mandava fazer alguma coisa, era sempre algo contrário do que eu queria fazer
desta vez
foi diferente
era mais um: eu te apoio nas tuas decisões
te reconheço como uma pessoa de valor
estamos aí pra o que der e vier
piegas?
não ligo
sempre teremos nossas dúvidas sobre nossos pais
quem eles verdadeiramente são

quanto a mim?
amo
muito parecido com eles
em algumas coisas
me apaixonei muito mais
e levei certas coisas adiante
eu mergulho de cabeça,
e eles admiram isso.

voo noturno


nessa noite silenciosa

encontrei-me com a tua alma

num céu estrelado

vi teu rosto

olhei longamente

teus olhos

tua boca

quis tocá-la,

mas rápido demais

acordei!

idade

um ode à arte!
a natureza humana
sentimentos
amor, paixão, mentiras, saudade, raiva, dor e prazer
libertados nos filmes
horas, dias, anos, uma vida inteira.
o tempo é um fator flexível

o tempo é um mistério
aflige
dizem que o tempo cura qualquer sentimento
o tempo não pára

de cabeça fresca, cito três filmes
O feitiço do tempo,
Antes de partir
O estranho caso de Benjamin Button

já senti vontade de parar o tempo
dar um tempo nas coisas
resolver depois
vontade de repetir um dia,
pra mudar algumas coisas
não penso mais assim.

uma coisa que intriga
é o que a passagem do tempo faz com as pessoas
algumas delas temem a velhice
algumas temem a morte
outras temem as duas coisas
é muito triste "perder" alguém importante na sua vida
para a morte

a verdade é que pessoas estarão na sua vida
o tempo que devem estar
existem pessoas que vão embora por si mesmas
em busca de algo diferente
outras nos são arrancadas
essas nunca voltarão,
e é triste,
a vida acaba sempre

refletir sobre isso é bom
mas viver pensando nisso... não.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Trainspotting


silêncio aos pensamentos

um minuto de silêncio
um minuto.

há pessoas que saem das nossas vidas
com vontade de ficar.
mesmo assim..., ainda assim, chove.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Samba da bênção

http://br.youtube.com/watch?v=pdStj4D28vY

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não

Senão é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão

Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba

........

Vinicius de Moraes / Baden Powell

pela luz dos olhos teus

bossa nova
sambinha
Vinícius

http://br.youtube.com/watch?v=X3w3DjKkTls

escrever com paixão

é assim, escrever sempre com paixão,
sem pensar
pensar depois...
melhorar depois....
mas escrever, se escreve com o coração!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

joão trabalhador

o sol não brilhou pra todos
ele não é de todos
é uma ilusão, que deve ser perseguida
mesmo por aqueles que nunca o terão...

sem complicações
os direitos trabalhistas decaem a olhos vistos
lobes, baixas salariais, cortes, questionamentos sobre o 13º
todos os tipos de artimanhas,
enquanto as grandes empresas lucram
inimagináveis bilhões de almas penadas
liberalismo....pós liberalismo... neoliberalismo...
que outro nome se dará a liberdade de exploração
daquele que não é nada, não pode nada
homo sacer
há sempre a pergunta
pregada como um trunfo de promessas mal(-)ditas
porque existem pessoas que ainda morrem de fome
num mundo onde "todos podem ter um lugar ao sol?"

a promessa de direitos iguais a todos
...
então, abrimos mão da nossa liberdade
ou melhor, nascemos com a nossa liberdade tomada
pela causa nobre da igualdade...
tamanha a infâmia de tal promessa
a palavra igualdade deveria ser extinta
"liberdade, igualdade e fraternidade"
há os que exploram, há os que são explorados
há uma camada indefinida

joão, trabalhador
em contos traduzidos em monólogos
numa série inteligente da tv cultura: Contos da meia noite
retratou a vida de trabalho em Arquivo - de Victor Giudice -
cuja vida entregou ao trabalho
literalmente...

http://br.youtube.com/watch?v=G5VvislfQ4Q