segunda-feira, 12 de julho de 2010

a cabeça das coisas

São trinta anos sem o poetinha,
sim, Vinícius de Moraes passava dessa
p'ruma melhor, deixando uma parte da sua vida à quem queira ler,
poesias, poemas, prosas, sambas e canções de amor...
Vinícius não só é o nome do filho meu,
que por amor e homenagem ofereci ao poetinha,
mas o símbolo do amor incondicional,
eternizado frente a tantos outros nomes que já chamei.

Vinícius ao longo do tempo
ganhou outro significado,
um rosto, reclamações e muitos abraços,
Vinícius é quem eu chamo para fazer as tarefas
que nunca quer, peço para tomar banho
meio às contestações infantis,
sonha sonhos que valem ouro...

Só mesmo o poetinha para saber o significado de ser mãe,
cujo verbo divido com os demais:

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.


Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu


Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.

Bravo! Bravíssimo!