segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Passantes

Olhares cúmplices, alguns amedrontados,
outros destemidos... sofridos.
Passo pela rua,
centenas de luzes vermelhas dos carros,
sobe a rua até perder de vista.

A chuva leve, macia....
Cai sobre o guarda chuva como se
fosse uma névoa fria que se deita sobre os passantes.
Um sopro:
como se premeditasse
como se fosse o silêncio da guerra
antes da batalha,
ou a saúde antes da morte,
apenas a melhora aparente.

A fila do mercado não á opção,
nos corredores pão e água estão no fim,
o barulho da chamada no guichê,
o número 12 em vermelho,
a pressa, a água avança, sobe.

Mais uma vez,
Blumenau teme, treme.
Nem choveu tanto desta vez,
choveu menos dias,
mas talvez tenha chovido mais.
Acompanho no site da rádio
7.5 metros é o nível do rio,
com 9 Blumenau já estará em muitos pontos alagada,
a previsão, se não chover mais é otimista:
não chega aos 8 metros.

Senti o cheiro do rio,
aquela água barrenta, um marrom amarelado,
lembrei da lama que cobriu a cidade até fevereiro... maio...

Tantos oram pelo cessar da fúria das águas,
como se as orações segurassem os barrancos,
num crer que a natureza se curva à fé.
Só penso,
ora ou outra,
no cheiro de morte
que trouxeram essas águas,
no sabor amargo do estrago,
o lodo recobrindo o asfalto,
o lixo molhado espalhado pelas ruas,
casas destruídas em cima de outras casas,
os olhos dos meus conterrâneos...
tão incrédulos quanto os meus.

Não sei se gosto mais daqui,
é bela, porém má,
impiedosa Blumenau.

Os passantes curiosos,
ao longo da Beira Rio, à beira do rio,
se cruzam com mau jeito,
batendo as pontas dos guarda-chuvas,
hipnotizados pelo volume de água.

Parou de chover,
simplesmente,
trabalho, e espero a próxima notícia,
quero ler:
"parou de chover em Blumenau,
o nível do rio começa a baixar,
ventos fortes e sol
para terça-feira, dia 29/09"