sábado, 7 de fevereiro de 2009

cittá

bela cittá...
cresce desenfreada
aturdida
caótica

era uma menina
12 ou 13 anos
talvez menos
um corpo infantil
6 da manhã
a rua comia seus cabelos
as pontas de seus pequeninos dedos

era uma menininha
jogada aos becos
adoecida
dormia
encostada às portas
de uma grande loja
que sugava sua alma

seus trajes não eram de menina
seus trajes...
trapilhos
sujos da podridão
daqueles que a envenenaram
talvez um trago
uma pedra... quem viu?

magra, pele seca
11 anos me parece, talvez 10
pezinhos calçando uma sandália
simples
haviam rachaduras
nos pés jovens da menina
de andar na rua
sem ninguém
à margem
sempre à margem
sem ninguém

boates
diversão
ela sorria
decerto... mergulhada na noite
podre
que a consumiu
sobrou
a menina
jogada no asfalto da vida.

que mundo!
penso
tantos assim...
tantos
o dinheiro os consumiu
não tinham
arrancaram-lhes sua própria alma
pra pagar

que mundo!
eu vi
vi a menina
adormecida
não vi seu rosto
medo
dela
quis ter feito algo
pensei
passei pela menina
passei
agora eu choro
pela menina
ela ficou em mim...
pobre menina!

a cidade?
era bela
continua bela
ela era mais bela.