sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Maçã verde

Cercada de belas maçãs lustrosas vermelhas,
Alice com seus pés descalços caminha sobre elas
cuidadosamente para não machucá-las,
seus olhos alcançam somente o que a cerração não cobre,
poucos metros à sua frente maçãs vermelhas aos montes,
firmes aos seus pés, na textura lisa, encerada e seca.

Ouve-se um zunido ao longe,
e certa de que seguir o zunido chegará em algum lugar,
Alice direciona seu caminho na busca daquilo que não é silêncio,
e durante sua jornada, ela lembra das vozes amigas,
pensa que seus sonhos foram realizados por outras pessoas,
mas não por ela,
e o que faltou para ela? Coragem certamente não era.

Ficara escuro em toda volta
após longas horas de caminhada
em cima das maçãs vermelhas,
via-se na escuridão meio à neblina
apenas focos de reluzentes nas maçãs,
e Alice sentou para descansar e pegou uma maçã
afim de saciar sua fome, muito embora o cheiro das maçãs
já lhe trazia nojo.
A linda maçã vermelha não tinha gosto,
de casca rija encoberta pela pele perfeita
sua polpa era insossa, quase sem água.
Mas ela comeu assim mesmo,
não havia mais nada.

Alice ajeitou algumas maçãs para que pudesse
deitar-se, e apesar de desconfortáveis as maçãs frias
do zunido contínuo ao longe
o cansaço era mais forte, não houve demora a dormir.

Sentiu o calor do sol em seu corpo,
sinal que já era hora de voltar a caminhar
no deserto de maçãs vermelhas,
acompanhada pela neblina forte,
Alice sentia seus pés feridos
pelas doces maçãs
sentia o enjoo daquele cheiro doce,
de onde afinal surgiram tantas maçãs?

Pensou que não havia mais nada
gritou, com a esperança de ouvir além do zunido,
gritou de raiva
gritou para a solidão, para o medo.
Cantou com a tristeza, falou olhando para o chão
e para si mesma, irritando-se
em razão do caminho que havia tomado,
porque afinal fora em direção ao zunido?
Pergunta que levou a tarde consigo.

Após vários dias de caminhada,
Alice beirava a loucura,
achou que sua vida tornara-se um mar de maçãs vermelhas.

Tentou lembrar o que a tinha feito chegar naquele caminho.

...............

Ela lembrou do tempo em que não haviam maçãs vermelhas para se ver

era um mar
mar infinito de maçãs vermelhas....
visão que era-lhe insuportável,
teria de fazer algo diferente
tinha que mudar a situação,
começou então a fazer um buraco
jogando as maçãs para cima.

Quando Alice,
enternecida, vê meio às outras maçãs
outra cor: verde,
retira as maçãs que ainda lhe impede de ver o contorno
uma maçã verde!

Carrega-a consigo.
E durante alguns dias
pensa o que fez aquela maçã entrar em seu caminho,
desconfia de que alguém poderia ter colocado ela lá
prevendo suas ações,
e numa derradeira paranóia,
sente raiva da maçã
quer comê-la
a morde desejando-lhe a morte,
sentido o gosto da poluição do mundo
o dissabor asqueroso do seu ódio
e sentiu ódio de todo mundo,
jogando a maçã com toda sua força,
caindo no chão de maçãs vermelhas em prantos,
por estar sozinha, pelo caminho difícil,
por tudo que lhe acontecera...

Chora até seus olhos incharem,
e molhar a gola de seu vestido azul,
e num momento de consciência e sensatez
olha ao seu redor....

A neblina se dissipou
e o caminho das maçãs vermelhas era limitado
o zunido partia das abelhas
que circulavam os caminhos de maçãs....

Percebe que ao longo dos meses
queria sair daquele deserto de maçãs vermelhas,
circulava os mesmos caminhos,
por perseguir o zunido das abelhas,
que estavam apenas a buscar seu próprio mel.

Sentiu-se tola, levantou-se e partiu,
seguindo seu próprio caminho,
graças a maçã verde.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

mudança

Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.
Mario Quintana

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Monteiro Lobato

Valha-me o Rei dos Peixes!

Balneário Camboriu

flores baldias

Ouvi,
sabe-se lá as tantas vezes a ouvi,
de um cd que dei ao meu pai,
no último domingo, e junto dele um cartão.

Um cartão que talvez para muitos represente pouco,
é só um cartão do pequeno príncipe...

Quando o vi, de fundo azul,
com o pequeno príncipeem sua roupa de gala,
cabelos amarelos esvoaçados
pendurado às estrelas, pelas quais era puxado
nas suas viagens pelo espaço.
Só havia um dizer no cartão:
Desenha-me um carneiro.

E ouvindo Gente humilde,
com versos recitados por Vinícius,
na viola de toquinho, num tom saudoso,
senti a lágrima.

Escrevi meus dizeres honestos em um rascunho,
e antes que a música acabasse,
tomada pela nostalgia,
eu vi um dia de páscoa,
tentava abrir a fechadura do portão... inalcançável,
as mangas molhadas da blusa de manga comprida feita de "plush" azul bebê
pesavam no bracinho pequeno, gelavam as mãozinhas,
e meu pai - um gigante de óculos e bigode, me chamava
com a cesta cheia de chocolates e balinhas (aquelas pequenininhas coloridas que ele sempre gostou)
me colocava no colo, me beijava as bochechas e fazia brincadeiras de rima.

Lembrei também do opa,
que fazia a mesma coisa...

Os dizeres do cartão eram honestos,
ele também me desenhou um carneiro,
e fez toda a diferença na vida.

Como era engraçado meu pai...
ficou feliz com meu presente,
me mostrou Gente humilde quando nos falamos esta semana no carro,
eu também gosto de Vinícius.
:)

Balzac

Todo processo é julgado pelos advogados antes de sê-lo pelos juízes, assim como a morte do doente é pressentida pelos médicos, antes da luta que estes sustentarão com a natureza e aqueles com a justiça.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Gente humilde

na voz de Vinícius...
...
Eu muito bem

Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar

São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar